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A Maloca de Concreto

Executive Summary

This report, prepared for the 30th Conference of the Parties (COP30) in Belém, argues that the stark dichotomy in Brazilian public architecture—between spectacular, high-carbon monuments and precarious, climate-vulnerable social housing—is not an accident but a direct materialization of the extractivist logic driving the global climate crisis. It exposes the so-called "Concrete Maloca," Niemeyer's Memorial to Indigenous Peoples, as a climate paradox: a monument whose carbon-intensive concrete form symbolically and materially negates the ecological wisdom of the cultures it purports to honor. The analysis demonstrates that the aesthetic choice for concrete is an ecological choice for high emissions, with the construction industry being a primary contributor to global greenhouse gases.

The report further contends that this architectural divide is a manifestation of environmental racism. While monumental projects serve to appreciate land value for a financial elite, social housing programs systematically displace the poor and racialized communities to the peripheries, into poorly constructed buildings located in areas of high climate risk, such as floodplains and urban heat islands. This is not merely poor planning but a systemic production of vulnerability, a form of climate maladaptation underwritten by public funds.

In response, this report presents a manifesto for a decolonial and socio-ecological architectural future. It posits that the most effective, just, and scientifically proven climate policies are those already practiced by Indigenous Peoples. The demands of the Indigenous NDC (Nationally Determined Contribution), presented by organizations like APIB and COIAB, must be moved from the margins to the center of COP30 negotiations. This includes recognizing territorial rights as a primary climate mitigation strategy, implementing direct and descolonized financing for traditional communities, and a radical reform of the construction and urban planning sectors. We demand that public procurement mandate Life Cycle Assessments (ACV) and prioritize low-carbon, bio-based materials. COP30 stands at a crossroads: it can either perpetuate the violent logic of the concrete monument or embrace the path of territorial justice, ecological wisdom, and a livable future for all, led by the peoples of the forest.

Manifesto para a COP30: Da Maloca de Concreto à Justiça Territorial

Introdução: A Arquitetura em um Planeta em Chamas

As pesquisas anteriores deste repositório diagnosticaram a ascensão de um "tecnofeudalismo" global, um sistema que aprofunda a dependência tecnológica do Brasil e ameaça sua soberania através de um neocolonialismo digital e extrativista. Este manifesto expande essa análise, deslocando o foco do campo político-legislativo para o ambiente construído. Argumentamos que a arquitetura pública no Brasil não é um campo neutro, mas a materialização em concreto da mesma lógica extrativista, colonial e desigual que fundamenta a crise climática e a dependência tecnológica.

A 30ª Conferência das Partes (COP30), sediada em Belém, no coração pulsante da Amazônia, nos obriga a uma confrontação radical com as noções de “desenvolvimento” e “progresso” que nos trouxeram à beira do colapso climático. Esta fratura se manifesta na própria organização do evento. Enquanto a agenda oficial do Estado celebra obras de infraestrutura de legado, como o Parque da Cidade e o Porto Futuro II, como símbolos de preparação (Agência Pará, 2025), uma contranarrativa emerge com força avassaladora. A Cúpula dos Povos, articulada por centenas de movimentos sociais, povos indígenas e comunidades tradicionais, recusa as falsas soluções do capitalismo verde e exige justiça climática e a garantia dos direitos territoriais como condição inegociável para qualquer futuro possível (ClimaInfo, 2025; Amazônia Real, 2025).

Esta dualidade política entre a COP oficial e a Cúpula dos Povos é um reflexo direto da dicotomia arquitetônica que este manifesto disseca. A "Maloca de Concreto" de Niemeyer e os "caixotes inóspitos" da habitação social não são falhas de projeto, mas produtos de um sistema que prioriza o espetáculo de alto carbono para poucos em detrimento da segurança e dignidade de muitos. A tese deste relatório é, portanto, um chamado à ação: as escolhas de materiais, a alocação de fundos e as prioridades de projeto na arquitetura são atos políticos. É hora de expor este sistema e forjar uma alternativa decolonial e socioecológica, alinhada a um projeto de soberania real.

Parte I: A Maloca de Concreto como Paradoxo Climático: Escolhas Materiais, Custos Planetários

A análise crítica da arquitetura brasileira deve começar por seus ícones, e poucos são tão emblemáticos quanto o Memorial dos Povos Indígenas de Oscar Niemeyer em Brasília. Concebido para homenagear a maloca Yanomami, o edifício é um paradoxo. Este relatório, no entanto, desloca a crítica do campo puramente simbólico para o material, revelando a obra como um paradoxo climático.

A poética do concreto de Niemeyer, sua busca por uma forma permanente e escultural, é também uma poética do carbono. A indústria da construção civil é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE) em escala global, responsável por mais de 10% das emissões de CO₂, impulsionada principalmente pela produção de cimento e aço (IPT/Poli-USP, 2022). A Agência Internacional de Energia (IEA) identifica a redução de emissões no setor de cimento como um desafio central para o cumprimento das metas climáticas, dado que se consomem 150 toneladas do material a cada segundo no planeta (IEA, 2024; Brasil Energia, 2024). Embora a indústria cimenteira brasileira emita 11% menos CO₂ por tonelada que a média mundial, graças ao uso de adições e biomassas, ela ainda é parte de um sistema global insustentável e tem metas ambiciosas de redução a cumprir (ABCP, 2022).

A escolha do concreto para o Memorial, portanto, não foi apenas uma decisão estética modernista; foi uma decisão de altas emissões. A “permanência” do monumento, celebrada por seu arquiteto, traduz-se na persistência atmosférica de longo prazo do dióxido de carbono liberado para sua construção. Essa lógica de permanência e dominação material contrasta violentamente com a cosmologia construtiva da yano Yanomami, uma estrutura de materiais orgânicos, cíclicos, biodegradáveis e, fundamentalmente, que sequestram carbono.

Para quantificar essa violência ecológica, é preciso adotar a metodologia da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). A ACV é a técnica científica que analisa os impactos ambientais de um produto ou edifício “do berço ao túmulo”, desde a extração da matéria-prima, passando pela construção e operação, até sua demolição e descarte (Ibict, 2024; GBC Brasil, 2023). Sob a ótica da ACV, a “maloca de concreto” não é um tributo, mas um fardo planetário. Sua pegada de carbono incorporada representa uma dívida climática que contradiz a própria essência das culturas que se baseiam na reciprocidade com a Terra. A monumentalidade se revela, assim, como uma forma de devastação.

Parte II: O Olhar Colonial e sua Pegada de Carbono: Apropriação, Extração e Apagamento

O projeto modernista brasileiro, do qual o Memorial é um capítulo tardio, estabeleceu com as culturas originárias uma relação extrativista. A antropofagia de Oswald de Andrade, proposta como estratégia de afirmação nacional, tornou-se, na prática, um álibi para a apropriação. O artista e ativista Denilson Baniwa desfere uma crítica contundente a esse processo, afirmando que os modernistas, para atender a uma demanda por uma identidade “brasileirista”, pegaram apenas uma “parcela caricata” da cultura indígena, esvaziando-a de seu sentido (Baniwa, 2025). A “devoração” da forma da maloca por Niemeyer, regurgitada como uma obra de concreto, é o equivalente arquitetônico da transformação de mitos sagrados em arquétipos nacionais desrespeitosos, como em Macunaíma. Baniwa propõe uma “Re-antropofagia”, uma devoração ao contrário, onde a cultura indígena consome e ressignifica o modernismo para desconstruir seus mitos (Alves & Kirchof, 2025).

Essa extração simbólica é a manifestação cultural de uma ideologia de desenvolvimento que o pensador Ailton Krenak denuncia como letal. Para Krenak, as promessas de “progresso e desenvolvimento” são discursos de “serial killers”, pois se baseiam na destruição da base da vida (Krenak, 2023). A construção de Brasília e seus monumentos é a materialização máxima dessa ideologia: a imposição de uma ordem racional e extrativista sobre o Cerrado, ignorando os limites da Terra e as cosmologias dos povos que ali viviam.

A essa visão de mundo, o xamã e líder Davi Kopenawa contrapõe uma ecologia decolonial. Em A Queda do Céu, Kopenawa descreve um mundo vivo, onde florestas, rios e montanhas têm agência, uma visão radicalmente oposta àquela que vê a natureza como um recurso inerte a ser conquistado pelo concreto (Kopenawa & Albert, 2015). A “queda do céu” é a profecia do colapso ecológico causado pelo “povo da mercadoria”, cuja ganância por minérios e bens transforma a floresta em fumaça. A extração simbólica de formas indígenas pela arquitetura modernista e a extração material de recursos de terras indígenas, denunciada hoje pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) como motor do desmatamento e da crise climática (APIB, 2025), não são fenômenos separados. Eles brotam da mesma raiz colonial: a negação da alteridade e a transformação do mundo em mercadoria. A pegada de carbono do concreto é a sombra da pegada colonial do extrativismo.

Parte III: A Economia Política da Maladaptação: Finanças, Concreto e Vulnerabilidade

A dicotomia entre a arquitetura monumental e a habitação precária não é um desvio, mas o resultado programado de um sistema. A urbanista Raquel Rolnik, em sua obra Guerra dos Lugares, fornece a chave para decodificar essa lógica: a “financeirização da moradia” (Rolnik, 2019). Nesse modelo, a terra e a moradia deixam de ser direitos ou bens de uso para se tornarem ativos financeiros, mercadorias em um mercado especulativo global (Masson, 2020). O Estado, longe de ser um contraponto, atua como o principal agente dessa transformação, utilizando políticas públicas para abrir novos mercados para o capital financeiro (Rizek, 2015).

Esse sistema produz ativamente a maladaptação climática. Projetos monumentais, como museus e centros culturais, são financiados com vultosos recursos públicos não apenas por seu valor simbólico, mas por sua capacidade de valorizar o solo urbano em seu entorno, gerando lucros extraordinários para o mercado imobiliário e fundiário. Simultaneamente, para viabilizar o lucro na outra ponta do sistema, a habitação de interesse social é empurrada para as terras mais baratas: as periferias distantes e, crucialmente, as áreas de maior risco ambiental, como planícies de inundação e encostas instáveis. A segregação não é um efeito colateral; é a premissa econômica do modelo.

A tabela a seguir expõe as engrenagens desse sistema dual, revelando como ele aloca prestígio e segurança para um lado, e risco e precariedade para o outro.

Característica Projeto Cívico Monumental (ex: Memorial, Museu) Projeto de Habitação de Interesse Social (HIS)
Processo de Projeto Concurso de alto perfil ou comissão direta para um "starchitect". Foco em forma única e icônica. Modelos padronizados e repetitivos. Fase de projeto mínima, focada na redução de custos e replicação.
Perfil do Arquiteto Escritórios de renome internacional, estabelecidos (ex: Niemeyer). Escritórios pequenos ou ator secundário em um processo liderado por construtoras.
Perfil da Construtora Grandes construtoras nacionais/internacionais (empreiteiras). Construtoras locais, de pequeno a médio porte, competindo por preço.
Orçamento e Financiamento Alto custo por m², financiamento público e privado, justificado por turismo/imagem. Custo por m² extremamente baixo, financiado por programas federais. Meta é maximizar unidades.
Impacto Climático/Ambiental Alta pegada de carbono incorporado (concreto, aço); impermeabilização do solo; contribuição para ilhas de calor urbanas; frequentemente associado à gentrificação e deslocamento. Construção em áreas de risco ambiental (enchentes, deslizamentos); má performance térmica (aumento do consumo de energia para refrigeração); segregação em periferias distantes, aumentando a dependência de transporte e as emissões associadas.

Table 1. A Comparative Analysis of the Systemic Logic Behind Monumental and Social Housing Projects in Brazil. This table provides a systemic comparison between the development processes of monumental civic projects and social housing initiatives in Brazil. It highlights the stark contrasts in design priorities, financing models, and the profiles of architects and construction firms involved, ultimately revealing how the system allocates prestige and security to the former while assigning risk and precarity to the latter.

Esta comparação sistêmica demonstra que a precariedade não é uma falha, mas um produto. O mesmo sistema que financia o monumento de concreto como um ativo financeiro produz a moradia vulnerável como um passivo climático e social.

Parte IV: A Arquitetura da Injustiça Climática: Ilhas de Calor, Planícies de Inundação e Racismo Ambiental

A falha qualitativa da habitação social no Brasil é a materialização da injustiça climática. Os “caixotes inóspitos” do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) e similares não são apenas arquitetonicamente pobres; são armadilhas climáticas.

A lógica de buscar o menor custo, empurrando os conjuntos para terrenos baratos, resultou em inúmeros casos de construção em áreas de risco. No Espírito Santo, o Ministério Público Federal processou construtoras e a Caixa Econômica por erguer residenciais em áreas suscetíveis a alagamentos, exigindo a construção de diques de contenção (Eshoje, 2018). No Rio Grande do Sul, a justiça determinou que a Caixa e o município de Alegrete indenizassem famílias cujas casas foram inundadas após a construção de um condomínio do MCMV alterar o curso de um rio e eliminar uma área de alagadiça que protegia o bairro (TRF4, 2024). A tragédia climática que devastou o mesmo estado em 2024 expôs essa vulnerabilidade em escala catastrófica, forçando o governo federal a criar programas de emergência para reconstruir ou fornecer novas moradias para milhares de famílias desabrigadas, muitas delas de baixa renda (Agência Brasil, 2025; GZH, 2025).

Além das inundações, há a crise silenciosa do calor extremo. A má qualidade construtiva, o uso de materiais inadequados como telhas finas de fibrocimento, a falta de ventilação cruzada e a ausência de áreas verdes transformam essas moradias em verdadeiras “ilhas de calor”, exacerbando os impactos das ondas de calor cada vez mais frequentes (WRI Brasil, 2023). Moradores de baixa renda sofrem com o desconforto térmico, problemas de saúde e o aumento dos custos de energia para tentar mitigar o calor, aprofundando a vulnerabilidade social e econômica (Marco Zero, 2024).

É imperativo nomear este fenômeno: racismo ambiental. Não é coincidência que os impactos desproporcionais de enchentes e ondas de calor recaiam sobre as populações das periferias, majoritariamente negras e pobres (Agência Pública, 2022; Mídia Ninja, 2024). Como afirmou o ministro Silvio Almeida, não se trata de que apenas esses grupos sejam afetados, mas de que são os mais afetados por razões sociais e históricas de segregação e negligência (Agência Brasil, 2024). A arquitetura da negligência é uma arquitetura racializada.

A perpetuação desse modelo é ainda mais injustificável quando existem alternativas de baixo carbono, como demonstra a comparação da pegada de carbono de diferentes sistemas construtivos.

Sistema Construtivo (Construction System) Pegada de Carbono (kgCO₂eq/m²) Fonte (Source)
Parede de Alvenaria (Bloco de concreto) 27,98 KUSZTA et al., 2022
Parede de Madeira (Painéis OSB / Wood Frame) 18,78 KUSZTA et al., 2022

Table 2. Comparative Carbon Footprint of Wall Construction Systems: Concrete Masonry vs. Wood Frame. This table compares the embodied carbon footprint of two common wall construction systems, concrete masonry and wood frame, based on data from Kuszta et al. (2022). It illustrates the significant environmental advantage of bio-based materials like wood, which not only have lower production emissions but also act as a carbon store, a benefit not fully captured in this metric.

A escolha pelo concreto não é técnica, é política. Ela perpetua um ciclo de emissões e vulnerabilidade que poderia ser quebrado. A raiz dessa inércia está também na formação profissional. Pesquisas sobre os currículos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil mostram que a Habitação de Interesse Social (HIS) foi historicamente negligenciada, tratada como um tema marginal e sem prestígio, desvinculado da “grande arte” arquitetônica (Souza, 2019). Essa falha acadêmica forma profissionais despreparados e desinteressados em enfrentar a maior crise social e urbana do país, deixando o campo aberto para a lógica puramente extrativista das construtoras.

Parte V: Conclusão: Rumo a uma Arquitetura Socioecológica – Um Manifesto de Ação para a COP30

A análise deste relatório converge para uma conclusão inescapável: os dois Brasis arquitetônicos — o do monumento espetacular e o da moradia precária — não são mundos paralelos, mas as duas faces da mesma moeda de um sistema extrativista, colonial e financeirizado. A monumentalidade de poucos é construída sobre a vulnerabilidade de muitos. O capital simbólico do concreto é pago com o carbono na atmosfera e o risco nas periferias.

Continuar neste caminho é um ato de negacionismo climático e de violência social. É preciso uma ruptura. A COP30 em Belém não pode ser palco para mais promessas vazias e falsas soluções. Ela deve ser o ponto de inflexão onde as vozes da terra e dos territórios se tornam o centro da política climática. Este manifesto, portanto, não apresenta novas ideias, mas ecoa e amplifica as demandas urgentes dos povos que são a verdadeira solução para a crise. Alinhados com a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) Indígena, apresentada pela APIB, COIAB e outras organizações (APIB, 2025; COIAB, 2025), exigimos:

  1. Justiça Territorial como Política Climática Central: A demarcação e proteção integral das Terras Indígenas e territórios tradicionais deve ser reconhecida como a mais eficaz, justa e comprovada estratégia de mitigação climática. Relatórios da ONU e dados do INPE demonstram inequivocamente que essas áreas são as mais preservadas, funcionando como barreiras cruciais contra o desmatamento e como imensos sumidouros de carbono (ONU Brasil, 2024; WRI/Climate Focus, 2022). As TIs concentram 80% da biodiversidade do planeta e, na Amazônia, perderam menos de 0,3% de seu carbono nas últimas duas décadas, enquanto áreas não protegidas perderam 3,6% (ONU Brasil, 2024; ISA, 2018). Proteger territórios é proteger o clima.

  2. Financiamento Direto e Descolonizado: Basta de mecanismos de financiamento climático complexos, burocráticos e que fortalecem os mesmos atores que criaram a crise. Exigimos uma mudança radical na arquitetura financeira global, com a implementação de fundos de acesso direto, ágil e desburocratizado para que as organizações indígenas e comunidades tradicionais possam gerir seus territórios e implementar suas próprias soluções climáticas, baseadas em seus saberes ancestrais (APIB, 2025; DGRJ, 2025).

  3. Revolução na Arquitetura e no Urbanismo para uma Transição Justa: O setor da construção civil deve ser transformado de vetor da crise em motor da solução. Demandamos:

    • Reforma da Contratação Pública: É mandatório o fim da licitação por menor preço para habitação social. Os editais devem exigir Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e priorizar projetos com baixa pegada de carbono, que utilizem materiais de base biológica e renovável (como a madeira de manejo sustentável), que promovam a inserção urbana e que sejam resilientes ao clima.

    • Combate Frontal ao Racismo Ambiental: Proibir por lei a construção de novos conjuntos habitacionais em áreas de risco climático. Investir massivamente na adaptação e requalificação das periferias existentes, com infraestrutura verde, saneamento básico e moradias dignas e termicamente eficientes.

    • Revolução no Ensino: Exigimos uma reforma curricular radical nos cursos de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, posicionando a justiça socioecológica, a teoria decolonial, os saberes tradicionais e as tecnologias de baixo carbono como eixos centrais e obrigatórios da formação profissional.

A COP30 em Belém nos coloca diante de uma escolha. Podemos continuar a construir “malocas de concreto” — monumentos a um modelo de desenvolvimento falido, que petrifica a cultura, emite carbono e aprofunda a injustiça. Ou podemos, finalmente, ter a coragem de ouvir e seguir aqueles que nunca se separaram da Terra. O caminho para um futuro habitável não será construído com mais concreto, mas com mais justiça territorial.

Bibliografia

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