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Da Crise à Inovação na PUC-Rio## Uma Estrutura de Contraste: O Legado do Desperdício e a Promessa da Sustentabilidade

Para muitos cariocas, a imagem era um marco melancólico na paisagem de Jacarepaguá: a gigantesca estrutura metálica do palco do Rock in Rio, erguida para uma das primeiras edições do festival, permaneceu montada e abandonada por anos, um monumento ao desperdício de recursos e energia. Em forte contraste, espalhadas pelo Rio de Janeiro e pelo Brasil, outras estruturas, notavelmente leves, elegantes e sustentáveis, contam uma história diferente. São domos, pavilhões e anfiteatros feitos de bambu, frutos de décadas de pesquisa na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Esta é a história de como um grupo de pesquisadores, liderado pelo visionário Professor Emérito José Luiz Mendes Ripper (1935-2025) 1 e seu filho, o Dr. Lucas Alves Ripper 2, enfrentou uma crise técnica, repensou um paradigma construtivo e desenvolveu uma tecnologia com o potencial de revolucionar desde abrigos emergenciais para desastres até as grandes estruturas de eventos, oferecendo uma alternativa radicalmente mais inteligente e ecológica.

O Ponto de Inflexão: Superando o "Colapso" do Pensamento Convencional

A jornada não foi uma linha reta de sucesso. No início dos anos 2010, o Laboratório de Investigação em Livre Desenho (LILD) da PUC-Rio, fundado por Ripper, encontrou um impasse.3 As primeiras tentativas de construir domos geodésicos de bambu, inspiradas nos trabalhos de Buckminster Fuller 3, seguiam a lógica industrial: conectar as barras de bambu com

juntas pontuais metálicas de alta precisão.5

O resultado foi problemático. A natureza orgânica do bambu — sua conicidade, sua leve curvatura, suas propriedades que variam ao longo do colmo — entrava em conflito direto com a rigidez inflexível dos conectores metálicos.7 A abordagem se mostrou "custosa e trabalhosa" e, mais criticamente, perigosa. A tensão acumulada nas conexões rígidas frequentemente levava a rachaduras e ao "colapso" das estruturas.8

Foi nesse período de reavaliação, por volta de 2012, que os pesquisadores, em conversas informais, admitiram a "inadequação" do bambu para domos geodésicos. No entanto, a dispensa não era do material, mas do método. Eles não abandonaram o bambu; abandonaram a tentativa de forçá-lo a se comportar como aço. Essa crise foi o catalisador para a maior inovação do laboratório.

A Junta "Spin": A Elegância da Simplicidade e a Sabedoria do Material

A solução encontrada foi tão elegante quanto revolucionária: a (http://bambutec.com.br/wp-content/uploads/2017/07/Bamboo-and-textile-space-structure-dome-4-830x249.jpg), também conhecida pelo seu princípio ancestral de "viga recíproca".8 Em vez de um conector metálico central, a ponta de cada barra de bambu se apoia sobre a barra adjacente, criando um "giro" ou espiral no vértice. Toda a união é então solidarizada por uma

amarração firme, frequentemente com cordas e um torniquete de madeira para garantir a tensão.10

As vantagens foram imediatas e profundas:

  • Custo e Acessibilidade: A técnica eliminou completamente a necessidade de "peças especiais" e conectores industriais caros.8 O custo das conexões foi drasticamente reduzido ao valor dos materiais básicos — corda e o próprio bambu —, democratizando a tecnologia para autoconstrução e para uso em comunidades com poucos recursos.11

  • Flexibilidade Estrutural: A junta amarrada possui uma microflexibilidade que é "muito favorável ao comportamento local do bambu".8 Ela acomoda as irregularidades naturais do material e distribui as cargas suavemente, evitando as perigosas concentrações de tensão que causavam as falhas no sistema anterior.

  • Simplicidade de Montagem: A técnica dispensa ferramentas complexas e mão de obra ultraespecializada, alinhando-se à filosofia do LILD de criar "estruturas acessíveis".11

A junta "Spin" é a manifestação física de um design guiado pelo material, uma solução que triunfa não apesar da natureza do bambu, mas por causa dela.

Do Laboratório à Paisagem: O Anfiteatro da PUC-Rio como Obra-Prima

A prova definitiva da maturidade e sofisticação dessa nova abordagem é o (http://bambutec.com.br/wp-content/uploads/2016/07/2016.06.13-Arquitetura-PUC-0031-830x553.jpg), inaugurado em 2014 no campus da PUC-Rio.12 Projetado e construído pela Bambutec, empresa que nasceu do ecossistema do LILD 2, o anfiteatro é uma síntese de décadas de pesquisa.

A estrutura não é um domo geodésico simples, mas uma complexa e híbrida estrutura espacial que combina múltiplos conceitos inovadores, como arcos de flexão ativa (onde o bambu é pré-tensionado durante a montagem para gerar formas curvas de alta resistência) e treliças pantográficas retráteis.12

Os dados da obra atestam a eficiência do método:

Característica Detalhe Fonte
Área Coberta 200 m² (17 x 12 metros) 12
Peso Total da Estrutura 1.400 kg (1.4 toneladas) 12
Peso por Metro Quadrado Apenas 7 kgf/m² 12
Tempo de Montagem 25 dias 12
Equipamentos Pesados Nenhum (montagem com elevadores móveis e alavancas) 12
Número de Peças/Conexões Não especificado, mas composto por módulos pré-fabricados de bambu tratado e conexões flexíveis 12
Custo Não divulgado, mas o projeto recebeu auxílio da FAPERJ. A metodologia visa baixo custo ao eliminar peças industriais complexas e equipamentos pesados. 12

Com um peso comparável a compósitos poliméricos de alta tecnologia, o anfiteatro é classificado como uma estrutura ultraleve.12 Ele demonstra que é possível criar arquitetura de grande escala, bela e funcional com um impacto ambiental radicalmente baixo.

O Impacto Econômico e Social: Abrigos, Eventos e um Novo Paradigma

O legado da pesquisa do LILD transcende os muros da universidade. A tecnologia desenvolvida, hoje comercializada e aprimorada pela (http.bambutec.com.br/category/projetos/) (que inclusive detém uma tecnologia patenteada de juntas para produção em escala 14), tem um potencial socioeconômico vasto e ainda pouco explorado.

Abrigos Temporários e Resposta a Desastres

As características intrínsecas do sistema — leveza, baixo custo, montagem rápida e sem necessidade de equipamentos pesados — o tornam ideal para a criação de abrigos temporários em situações de desastres naturais ou crises humanitárias. Uma equipe pequena pode transportar os componentes para locais remotos e erguer estruturas de abrigo seguras e dignas em questão de dias, uma solução muito mais sustentável e culturalmente adaptável do que contêineres ou tendas de plástico. A metodologia de autoconstrução, refinada por Lucas Ripper em sua tese 2, permite que as próprias comunidades afetadas participem do processo, gerando apropriação e capacitação local.

A Revolução nos Eventos

Voltando ao exemplo do Rock in Rio, a tecnologia do LILD/Bambutec oferece uma resposta direta ao modelo de "construir e descartar". Imagine palcos, pavilhões e áreas de convivência para grandes festivais construídos com essa tecnologia. As estruturas seriam:

  • Mais Baratas: Reduzindo drasticamente os custos com material (aço) e logística (guindastes).

  • De Baixo Impacto: Montadas e desmontadas com mínimo dano ao local.

  • Reutilizáveis: Totalmente desmontáveis, as estruturas podem ser embaladas, transportadas e remontadas em outros eventos, criando uma economia circular.13

  • Esteticamente Impactantes: A beleza natural do bambu e a elegância das formas orgânicas criam espaços únicos e acolhedores.

A pesquisa iniciada por José Luiz Ripper e continuada por uma nova geração de pesquisadores e empreendedores não oferece apenas uma nova técnica construtiva. Ela propõe uma nova filosofia: construir em harmonia com a natureza, usando a inteligência do design para transformar as "imperfeições" de um material natural em sua maior virtude. É uma revolução silenciosa, feita de bambu e corda, que aponta para um futuro onde as estruturas que nos abrigam podem ser tão leves para o planeta quanto são para os nossos olhos.


Referências Bibliográficas

RIPPER, José Luiz et al. Puc-Rio Bamboo Domes: Origins, References and Innovation on Non-Conventional Self-Standing Structures Research. In: IASS-SLTE 2014 SYMPOSIUM: SHELLS, MEMBRANES AND SPATIAL STRUCTURES: FOOTPRINTS, 15-19 set. 2014, Brasília. Anais... Brasília: International Association for Shell and Spatial Structures (IASS), 2014. p. 1-12. 8

RIPPER, Lucas Alves. Sociedade, natureza e técnica: Design das estruturas adaptáveis de bambu. 2015. 230 f. Tese (Doutorado em Design) - Departamento de Artes & Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. 2

BAMBUTEC. Anfiteatro PUC-Rio. Bambutec Design, [2017?]. Disponível em: http://bambutec.com.br/anfiteatro-puc-rio/. Acesso em: 30 jun. 2025. 12

BAMBUTEC. Bambutec Technology. Bambutec, [s.d.]. Disponível em: https://bambutec.eu/. Acesso em: 30 jun. 2025. 14

NÚCLEO DE MEMÓRIA DA PUC-RIO. Falecimento do Professor José Luiz Mendes Ripper. PUC-Rio, 14 mar. 2025. Disponível em: http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/noticia/2025/03/falecimento-professor-jose-luiz-mendes-ripper. Acesso em: 30 jun. 2025. 1

ESDI. Nota de Falecimento: José Mendes Ripper. Escola Superior de Desenho Industrial, UERJ, . Disponível em: https://www.esdi.uerj.br/noticias/11296/nota-de-falecimento-jose-mendes-ripper. Acesso em: 30 jun. 2025. 3

MOREIRA, Luís Eustáquio et al. Domos Geodésicos de Bambu do Laboratório de Investigação em Livre Desenho - PUC-Rio: Origens, Referências e Inovações em estruturas Autoportantes Não Convencionais. ResearchGate, 2014. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/315449849_Domos_Geodesicos_de_Bambu_do_Laboratorio_de_Investigacao_em_Livre_Desenho_-_PUC-Rio_Origens_Referencias_e_Inovacoes_em_estruturas_Autoportantes_Nao_Convencionais. Acesso em: 30 jun. 2025. 5

SILVA, M. F. ****. [s.l.]: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, [s.d.]. Disponível em: https://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0710748_09_cap_03.pdf. Acesso em: 30 jun. 2025. 10

JORNAL DA PUC. Projetos técnico-científicos expostos debaixo da tenda de bambu. PUC-Rio, [2011?]. Disponível em: https://jornaldapuc.vrc.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2456&sid=24. Acesso em: 30 jun. 2025. 11